Risco invisível: Apesar de não a vermos, a poluição sonora causa diversos prejuízos em nosso organismo. Veja como o cérebro reage a ela e quais as melhores formas de se prevenir contra seus efeitos.
Matéria da revista 'O Mundo Secreto do Cérebro'.
TEXTO E ENTREVISTAS LEONARDO GUERINO/COLABORADOR
Quem habita as grandes cidades, provavelmente, convive todo dia com um companheiro inseparável... o barulho. É comum nos expormos constantemente a grandes ruídos e sons altos provenientes das mais diferentes fontes presentes nos grandes municípios. Vindos desde brinquedos barulhentos até do trânsito que enfrentamos constantemente a caminho da escola, da faculdade, do trabalho ou mesmo em nossos momentos de lazer, quando abusamos do volume das nossas músicas preferidas.
Mas toda essa exposição prolongada que temos sobre a poluição sonora tem um preço alto, o qual pode sobrar para a saúde de um dos nossos órgãos mais importantes: o cérebro. "O contato com ruídos excessivos não se limita apenas a danos auditivos, mas também a efeitos extra-auditivos, como distúrbios neurológicos, fisiológicos e psicológicos. Esses sintomas podem impactar seriamente na qualidade de vida e adoecer as pessoas", explica a fonoaudióloga Katya Freire, especialista em preservação e conservação auditiva. Adversidades como ansiedade, irritação, fadiga, redução da produtividade, aumento da pressão sanguínea, dores de cabeça e, até mesmo, problemas gastrointestinais e sexuais são comprovadamente associados à superexposição a barulhos e ruídos.
Barulho demais pra minha cabeça
O cérebro é um dos órgãos que mais sofrem com os ruídos estressantes do dia a dia. Os profissionais auditivos identificam que os barulhos lesadores do organismo são catalogados em 3 fases, que juntas resultam em sérios efeitos sobre nosso corpo. São elas: estresse agudo, estresse crônico e estresse de exaustão.
"A primeira fase (estresse agudo) libera noradrenalina no sangue, uma vez que o sistema nervoso central (SNC) simpático foi acionado. A segunda fase (estresse crônico) ocorre quando o organismo se adapta ao ruído, porém continua se defendendo e, consequentemente, libera mais adrenalina, hormônio que, assim como a noradrenalina, influencia no desenvolvimento do medo, raiva e ansiedade. A terceira fase (estresse de exaustão) corresponde ao período pré-agônico, na qual se mantém a liberação desses hormônios e ocorre uma queda de gonadotrofinas e oxitocinas, afetando a persistência, comportamentos sociais e sexuais. Isso acarreta na depressão, afeta a imunidade e pode gerar uma desintegração orgânica, óssea e muscular", esclarece Katya. E as fontes de risco para nossos tímpanos estão presentes nos mais diversos lugares, até mesmo dentro de casa com os eletrodomésticos barulhentos, como aspiradores de pó, liquidificador, televisão, etc.
Melhor prevenir
De acordo com Katya, um dos maiores problemas dos brasileiros é a desatenção sobre a prevenção quanto ao tema poluição sonora, sem compreenderem que as consequências para si são graves, como a perda auditiva, que é irreversível. "A melhor opção é a prevenção e a conscientização sobre esse agravo invisível que é tão prejudicial à saúde e ao ambiente." afirma a fonoaudióloga Márcia Soalheiro de Almeida. "O ideal seria que todas as pessoas pudessem ter, no mínimo, um aplicativo (decibelímetro) em seus smartphones para que pudessem controlar e ter uma noção básica sobre a que níveis de decibéis estão expostos", comenta Katya.
Uma forma de identificar se o local está com um ruído excessivo, por exemplo, é quando existe uma dificuldade de compreensão de uma conversa entre pessoas com audição normal. Quando dois indivíduos estão conversando normalmente, eles estão emitindo sons de 65/ 70 dB. "Se o ruído no ambiente dificultar a conversa de duas pessoas com audição normal é porque o nível do som provavelmente está acima de 85dB", explica Katya Freire.
"A exposição prolongada a ruídos excessivos não se limita apenas a danos auditivos, mas também a efeitos extraauditivos, como distúrbios neurológicos, fisiológicos e psicológicos"
Katya Freire, fonoaudióloga
CONVIVA MELHOR
Já que convivemos constantemente com sons de volume alto e barulhos que causam grande incômodo, é necessário nos prevenirmos quanto a sua intensidade para que, assim seus efeitos não causem tantos danos. Abaixo confira dicas de especialistas que vão ajudar você a se prevenir da poluição sonora:
• Afaste-se de fontes sonoras ruidosas, como caixas de som, motores entre outro;
• Adquira equipamentos mais silenciosos para sua casa e faça a manutenção periodicamente;
• Sempre que necessário, quando exposto a volumes sonoros muito altos, utilize equipamentos de proteção individual, como protetores auriculares;
• Procure não gritar ou falar alto em locais públicos;
• Quando utilizar fones de ouvido para escutar música, procure ouvir em volume regular.
CONSULTORIAS: Katya Freire, fonoaudióloga especialista em preservação e conservação auditiva; Márcia Soalheiro de Almeida, doutora em fonoaudiologia e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz.
Publicado em: 2017-05-31 20:21:19